Selic de 12,25% – Entenda o real impacto para os endividados e investidores
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na quarta-feira (01) o novo valor da Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira, determinada pelo governo), atendendo as expectativas, a taxa caiu 0,5%, ficando assim em 12,25% ao ano. Essa situação tem um impacto real para os investidores e para os devedores, lembrando que o Brasil tem a maior taxa de juro real do mundo.
Com a queda do índice da Selic, o que mais se fala é no impacto disso nos investimentos, que tende a ser negativo. Contudo, para a grande maioria da população que não é investidora, mas sim endividada, os reflexos dessa mudança pode ser um pouco mais positiva. E, no dia a dia da população consumidora, esses impactos são na maioria das vezes positivos.
Isso acontece porque, quando a taxa Selic diminui, a tendência é que outras taxas de juros também reduzam. Ou seja, quem precisa fazer parcelamentos, financiamento ou tem que fazer dívidas tendem a pagar juros menores, pagando consequentemente uma conta menor.
E o resultado do juros real menor é impactando também positivamente nas dívidas já existentes. Assim, imaginem os juros de cheque especial ou de cartão de crédito, por exemplo, que já são exorbitantes? Esses devem diminuir.
A baixa também impacta na realização de sonhos como o do carro novo e da casa própria, diminuindo os juros de crédito da população, como empréstimos e financiamentos, complicando e limitando a capacidade de consumo. Mesmo assim, a orientação nessa hora é analisar bem as contas e começar a trabalhar para uma maior estabilidade financeira, não criando complicações futuras.
E esse processo passa por uma mudança de comportamento em relação ao uso e à administração do dinheiro, o que implicará no fim da era do consumo exacerbado e impulsivo. O momento é de muita cautela e precaução, pois a saúde financeira e a realização dos sonhos das famílias dependerão dessa conscientização. É preciso reestruturar o orçamento financeiro e assumir o controle da situação, antes que se torne insustentável.
Investimentos
Agora, como dito no começo, aos que não estão endividados e, melhor ainda, possuem o costume de poupar para realizar seus objetivos de vida, a Selic reduzindo pode não ser uma boa notícia. Ficando menos rentáveis as aplicações de renda fixa em que o rendimento é atrelado a essa taxa, como os CDBs pós-fixados, os fundos DI, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e títulos negociados via Tesouro Direto.
É hora de repensar os investimentos, a recomendação pode ser começar a pensar em buscar linhas que não estão atreladas a Selic. Sempre lembro que a aplicação deve ser escolhida de acordo com o prazo do que você quer realizar com esse dinheiro: curto (até um ano), médio (de um a dez anos) e longo prazo (acima de dez anos).
Poupança
Uma característica a parte é a poupança, sendo que já atingiu sua trava. Para entender melhor é preciso lembrar que no passado o Governo Federal criou uma trava na relação entre a poupança e a Selic.
Assim, quando a Selic ultrapassa 8,5% ao ano, a poupança rende um teto de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (uma taxa calculada diariamente, também pelo governo, tendo como base as taxas cobradas pelas 20 maiores instituições financeiras do país). Ou seja, independentemente da Selic estar em 8,5%, 12% ou 20% o rendimento continuará sendo 0,5%, mais a TR.
Contudo, isso significa que a poupança deixou de ser um investimento interessante? Isso é relativo, temos que lembrar que a parcela da população que investe no Brasil é mínima e que grande parte dessas pessoas buscam a caderneta de poupança, assim, por mais que o rendimento não seja tão interessante, falar que as pessoas não devem aplicar o dinheiro nessa linha de investimento pode ser um ‘tiro no pé’.
A população não tem educação financeira ainda, infelizmente em sua grande maioria, e não se sente segura para investir, a poupança é um caminho seguro para essas pessoas, que deve ser incentivado em conjunto com ensinamentos sobre o mundo financeiro, que permitirá que as pessoas optem de forma inteligente por outras linhas.
Além disso, melhor investir o dinheiro em uma linha de rendimento baixo do que deixar parado no banco ou em casa, o que faz com que as perdas sejam muito maiores. Ou seja, á preciso muito cuidado antes de criticar a poupança, isso deve ser feito de forma inteligente, ensinando rumos e não descontruindo uma linha de tão grande relevância para o brasileiro.
*Reinaldo Domingos é PhD em Educação Financeira e está à frente DFlix, primeiro streaming de educação financeira. Presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP Educação Financeira. Autor de diversos livros sobre o tema, como o best-seller Terapia Financeira.